sábado, 30 de outubro de 2010

Matateu... A 8ª maravilha... Parte 2

Sebastião Lucas da Fonseca ( Matateu)

Em 24 de Abril de 1955, nas Salésias, o Belenenses defrontou, no último jogo do campeonato, o Sporting. Caso vencesse, e tudo indicava que sim, sagrar-se-ia campeão nacional. Porém, a quatro minutos do final, com a marca de 2-1 favorável aos azuis, o sportinguista Martins fez o empate e deu a vitória no campeonato ao … Benfica, que nessa tarde vencia o Atlético. Matateu marcou um golo. E teria marcado outro se o árbitro do encontro tivesse validado, já que, segundo o testemunho de muitos, entre eles o do próprio guarda-redes, e grande desportista do Sporting, Carlos Gomes, a bola esteve dentro, e bem dentro, da baliza.

Pese o desgosto de Matateu, que nunca se sagraria campeão nacional, a carreira continuou a desenrolar-se de forma extraordinária, jogando e marcando golos pelo seu Belenenses e pela Selecção Nacional. Um desses golos viria a contribuir para a vitória alcançada na final da Taça de Portugal, a 3 de Junho de 1960 no Estádio Nacional, frente ao Sporting por 2 a 1, que funcionou como uma espécie de desforra do fatídico empate, ocorrido cinco anos antes.

Grande área, bola nos pés … golo certo! O grande Matateu só podia ser travado na área em falta! E uma dessas faltas travou a possibilidade irrevogável de, no dia 21 de Outubro de 1961, Portugal assistir à participação num só jogo dos seus três maiores avançados, e mitos, de sempre: Peyroteo, Matateu e Eusébio. A partida, disputada com o Luxemburgo, que serviu de estreia ao Pantera Negra, poderia ter sido também a última de Matateu (com 34 anos) ao serviço da selecção nacional, orientados por Peyroteo, há muito retirado dos relvados. Mas quis o destino que, convocado, Matateu se lesionasse e não recuperasse a tempo … teria sido um sublime, e único, momento em que se juntavam, mais que simples avançados, jogadores de raro instinto do golo, raça de rematadores natos, aquele «algo mais» que fazia erguer as bancadas numa arrepiante emoção, mal na grande área os viam com a bola nos pés, na perspectiva do habitual rasgo de génio em movimento.

No total, Matateu festejou os seus próprios golos por 217 vezes em 291 jogos realizados na 1ª Divisão, sempre ao serviço do Belenenses. Conquistou a Taça de Portugal em 59/60, venceu duas Taças de Honra e foi o melhor marcador da Taça Latina. Assinou três golos em duas partidas na Taça UEFA. Representou a selecção portuguesa por 27 vezes, apontando 13 golos (igualando Peyroteo, até então o melhor da selecção nacional). Matateu era um verdadeiro felino no ataque, sempre sedento de golos. Chamavam-lhe «o terror dos guarda-redes». E foi essa fama, provada em campo, que lhe valeu da imprensa estrangeira o epíteto de «a oitava maravilha».


Vítima de diversas lesões, quase todas provocadas pela marcação implacável dos defesas adversários, Matateu lesionou-se gravemente em 1962, nos Estados Unidos, fracturando uma perna. No ano seguinte Fernando Vaz, técnico da formação azul, entende que Matateu já não pode jogar na 1ª equipa. Em Novembro de 1964, o clube promove-lhe uma grandiosa homenagem, para um mês depois ser dispensado, não obstante a forte oposição de alguns dirigentes da época, entre eles Acácio Rosa.


Para muitos a sua carreira terminara. Mas para Matateu não! Representa o Atlético em 1965 ajudando o clube de Alcântara a regressar à I Divisão, apontando nove golos.


Antes de partir para o Canadá para envergar a camisola do First Portuguese, representou ainda o Gouveia e o Amora. Volta a Portugal para representar o Chaves, mas a sua atenção centra-se já no continente americano para onde retorna, em 1969, jogando até aos 55 anos (!!!) pelo Sagres de Vitória. Em Maio de 1987 e Outubro de 1994, Matateu desloca-se a Lisboa onde é alvo de homenagens promovidas pelo Clube de Futebol «Os Belenenses».

E é precisamente o Belenenses quem faz deslocar a Victória, no Canadá, o seu irmão Vicente e a sua filha Argentina, num momento que era já doloroso face à doença de que era vítima. Matateu agradece emocionado o gratificante gesto do seu clube de sempre e doa parte do seu espólio desportivo a «Os Belenenses».

No dia de 27 de Janeiro de 2000, aos 72 anos, Matateu sofre a mais violenta falta da sua magnífica carreira e deixou o clube dos vivos. A 8 de Fevereiro, por iniciativa do clube e consentimento da família, as cinzas de Matateu foram depositadas em Portugal … Só não foi uma perda irreparável porque Matateu há muito ocupa espaço na memória colectiva de todos os Belenenses e não só.

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