quarta-feira, 10 de março de 2010

História Belenenses; 1945/46 IIIII

A épica jornada de Elvas

Tudo se conjurou então para um dramático Domingo de futebol. A 26 de Maio de 1946, em Elvas, o Belenenses deveria tentar vencer o Sport Lisboa e Elvas, sendo dada por quase certa a vitória do Benfica frente ao Atlético.

Sport Lisboa e Elvas que, como o nome indicava, era filial do próprio Benfica.

Consta aliás que os benfiquistas terão enviado um técnico seu para assegurar as melhores condições da equipa do SLE frente ao Belenenses.

Em vão, felizmente. Como curiosidade, na época seguinte o SLE, a braços com dificuldades financeiras, pediu auxílio à casa-mãe. Estes responderam que não tinham dinheiro para dar. Profundamente desiludidos com a atitude do Benfica os dirigentes do Sport Elvas decidiram proceder à ruptura com a casa-mãe e à fusão do seu clube com outro clube da cidade, curiosamente também bastante descontente com os “apoios” da sua casa-mãe: o Sporting Clube Elvense, filial do Sporting. Nasceu assim “O Elvas” Clube Alentejano de Desportos, sem filiação! (onde viriam a passar muitos ex-Belenenses).

Pelo contrário o Clube de Futebol “Os Elvenses” era (e ainda é) desde Novembro de 1924 filial do Belenenses - a primeira do Clube! - filiação escolhida na altura por precisamente já existirem duas filiais de outros dois “grandes” de Lisboa. Parte dos elvenses também apoiaram assim o Belenenses naquele jogo. A nossa filial elvense é dos melhores exemplos da implantação que o Belenenses tinha por todo o país, fruto dos sucessos alcançados logo desde a fundação. E a esse jogo decisivo em Elvas acorreram também adeptos azuis das mais variadas partes.

Naquele tempo chegar à “raiana” Elvas desde Lisboa era ainda um desafio considerável, não existindo obviamente a auto-estrada através da qual se faz hoje a ligação em pouco mais de 2 horas. Já existia desde há bastante tempo ligação ferroviária via Entroncamento (como ainda é hoje) mas, avaliando pelos horários (e máquinas) actuais, essa viagem pode levar cerca de 6 horas e meia. Na altura seria mais, seguramente.

Quanto aos automóveis, eram na altura um bem só acessível a uma minoria, sendo que a considerável “expedição” azul distribuiu-se assim em muitas “boleias”. A própria equipa do Belenenses teve de ser deslocar em carros particulares, pois naquela altura o Clube ainda não dispunha de autocarro.

O percurso terá sido o da Estrada Nacional nº4, tendo passado por Vila Franca, daí até Pegões (ainda EN10), depois seguindo por Vendas Novas (amanhã teremos artigo a respeito!), Montemor-o-Novo, Arraiolos (ou Évora), Estremoz, Borba e, finalmente, Elvas. No total, cerca de 230 quilómetros de distância. Considerando que na época uma velocidade máxima de 100 Km/h era ainda uma relativa extravagância (daí a expressão “a 100 à hora”, hoje quase “passo de caracol” para muita gente), estaríamos a falar de quase 5 ou mais horas de viagem.

Voltando de novo ao nosso adversário, foi a primeira equipa alentejana a chegar ao Campeonato Nacional (precisamente o de 1945/46), um feito sensacional para a época. “Aguentou-se” no escalão principal até 1950 (já como Elvas CAD desde 1947), cabendo ao Lusitano de Évora retomar a presença do Alentejo alguns anos depois.

A estrela de então era um homem da terra (como a totalidade ou quase totalidade da equipa), o avançado-centro Patalino. Posteriormente a própria cidade de Elvas prestou grande homenagem a este jogador (que chegou a ser internacional por 3 vezes, mesmo sendo jogador do Elvas – facto que também perturba os que hoje só concebem uma Selecção a partir dos “três”), inaugurando um busto com a sua figura.

Nessa tarde o Belenenses alinhou com: Manuel Capela, Vasco de Oliveira, António Feliciano, Francisco Gomes, Serafim Neves, Mariano Amaro, Mário Coelho, António Elói da Silva, Armando Correia, Artur Quaresma e Rafael Correia. Augusto Silva, como já referimos, era o treinador. Oficial de marinha e figura de grande destaque nas glórias azuis dos anos 20 (foi companheiro de Pepe e também protagonista dos primeiros “quartos de hora” à Belenenses), imprimia aos treinos da equipa o rigor da preparação física militar, um dos principais motivos do sucesso. Mais tarde o guarda-redes Capela justificou mesmo que o posterior êxito “ficara a dever-se às duas duras sessões de treino semanais, «uma de ginástica e outra de bola», que todos os jogadores «faziam com sempre renovado prazer na emoção das Salésias», antes ou depois de mais um dia de trabalho” (A Bola). Augusto Silva que naquela altura - e até ao triunfo de Matateu – era ainda o jogador do Belenenses com mais internacionalizações (21)!
Capela (o Guarda-redes), Vasco e Feliciano (os defesas) eram então conhecidos como as “Torres de Belém”, quer pela sua estatura (deveras impressionante a de Capela) quer pela quase inexpugnável muralha defensiva que formavam em campo.

continua...


PELA BANDEIRA, SEMPRE CÁ ESTAREMOS !!!!

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